Pela Empregabilidade das pessoas com deficiência

REIS divulga sua formalização na data de aniversário de nascimento do seu fundador

Homem branco, de cabelos curtos e castanhos e olhos castanhos. Ele está sentado em uma cadeira de rodas e veste um terno cinza com uma camisa branca por baixo e gravata vermelha.

Dia 23 de setembro é o dia de nascimento de João Ribas, sociólogo e escritor, precursor do movimento pela autonomia da pessoa com deficiência por meio do trabalho formal no Brasil. Ele fundou a REIS em maio de 2012 e, até março de 2014, quando sofremos sua perda, ele foi o líder integrador deste movimento colaborativo que reúne mais de 100 empresas nacionais e multinacionais que implementam práticas de inclusão das pessoas com deficiência.

Homem branco, de cabelos curtos e castanhos e olhos castanhos. Ele está sentado em uma cadeira de rodas e veste um terno cinza com uma camisa branca por baixo e gravata vermelha.

“Um dos seus sonhos, manifestado constantemente por João Ribas, até enquanto pode falar, era que a Rede se tornasse um movimento formal, autônomo, sustentável e abrangente, exercendo sua influência com grande força e independência. Seguindo seus passos e sempre inspirados em suas orientações, em 10 anos de atuação a REIS preencheu uma grande lacuna na sociedade brasileira, oferecendo caminhos, instrumentos e direcionamentos para a profissionalização da gestão da inclusão das pessoas com deficiência, promovendo o verdadeiro ganha-ganha. Este sonho torna-se realidade hoje, dia 23 de setembro, dia de seu aniversário de nascimento, com o anúncio da formalização da REIS como pessoa jurídica. Estamos felizes por esta realização conjunta, construída por inúmeras pessoas, mentes e corações sintonizados em propósito de evolução da sociedade.”, diz Ivone Santana, secretária executiva da REIS.

João Ribas foi professor de Gestão Estratégica de Recursos Humanos do SENAC. Ph.D. Doutor em Antropologia (Ciências Sociais) pela Universidade de São Paulo, Brasil. Professor de Antropologia por 15 anos. Autor de “Preconceito contra Pessoas com Deficiência ” (Cortez 2009) e vários trabalhos acadêmicos e artigos sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Foi orador em conferências em todo o mundo, incluindo o Forum Mondial de l’Economie Responsable, em Lille, França; Programa de Intercâmbio Profissional I-LEAD, nos Estados Unidos; e Inclusion Laboral de las Personas com Disapacitad, em Lima, Peru. Em março de 2010, a convite da Dow Brasil, esteve presente em Vancouver, Canadá, para participar dos Jogos Paralímpicos. Em 2011, no III Fórum sobre Deficiência e Desenvolvimento, patrocinado pela Organização Internacional do Trabalho, em Buenos Aires, Argentina. Atuou 25 anos em gestão na direção de atividades de recrutamento, treinamento e avaliação para pessoas com deficiência, com desenvolvimento e implementação de programas de avaliação e treinamento progressivos e inovadores para reduzir a rotatividade de pessoas com deficiência. Atuou como líder da Área de Diversidade & Inclusão na Serasa Experian, responsável pelo Programa de Empregabilidade para Pessoas com Deficiência e Jovens Aprendizes. Representou a empresa fundadora da Rede Empresarial pela Inclusão Social.

Em reconhecimento a este grande líder, convidamos algumas pessoas para falar sobre suas lembranças e impressões sobre o ser humano que deixou um legado de incalculável valor.

Se você também quiser deixar seu comentário e lembranças com João Ribas, vá até o final da página, no espaço de Comentário, faça o login e envie sua mensagem!

Dr. José Carlos do Carmo (Kal), médico do trabalho e auditor do trabalho na SRT-SP

Homem branco, de cabelos curtos e grisalhos. Ele usa barba grisalha, óculos de grau de armação preta e segura um microfone.

Eu conheci o João Ribas pelo trabalho que ele fazia na Serasa que, na época já era um destaque no que se refere particularmente às questões de acessibilidade e contratação de pessoas com deficiência para seus quadros. O João Ribas tinha uma grande capacidade de articulação. Ele conseguia envolver empresas e pessoas e teve um papel importante também na aproximação do nosso movimento com organismos internacionais como a OIT (Organização Internacional do Trabalho).

É difícil dizer do legado dele porque, na verdade, as ações que ele iniciou como precursor do movimento de inclusão nas empresas acabaram por influenciar outras empresas, então é um legado bastante amplo e imensurável. Mas especificamente eu citaria a criação da Rede empresarial de Inclusão Social (REIS) que, acredito, tenha sido inspirada nas propostas que o João Ribas fazia, destacando a importância e a necessidade dessa articulação das empresas, para que a questão diversidade e da inclusão estivesse incluída nos seus valores.

Eu tenho várias lembranças. Do ponto de vista mais profissional, eu diria das reuniões das quais eu participei, todas praticamente que ele organizava na Serasa, inclusive sendo convidado para participar delas enquanto orador. Mas do ponto de vista mais pessoal, uma vez a gente se encontrou por acaso em um show de um acordeonista do Leste Europeu, no Sesc Vila Mariana, e foi uma grande coincidência, ele estava sozinho, eu estava sozinho, aí ficamos os dois juntos no espaço reservado para pessoas  usuárias de cadeira de rodas e seu acompanhante.

Anita Gonçalves, psicóloga

Mulher branca, de cabelos lisos e loiros, olhos azuis. Ela usa óculos de grau de armação marrom.

Eu conheci o João em 2007, eu atuava na área de Recursos Humanos no escritório TozziniFreire Advogados e o João era o responsável pela organização do fórum da Serasa Experian. Nós recebemos um convite e eu fui representar o Escritório. Já no meu primeiro contato eu fiquei encantada com o João, com a força, com a coragem, com a determinação e com a paixão que ele tinha pelo assunto, por inclusão de pessoas com deficiência, então para mim foi assim… um impacto muito grande, começar a fazer parte daquele núcleo, começar a fazer parte de certa forma da vida do João também, porque ele também começou a fazer parte da minha vida até então. Foi a primeira vez que eu tive a experiência de participar de um fórum tão forte, tão intenso.

João tinha uma personalidade marcante, muito forte, muito convicto de tudo que ele estudava falava com muitos argumentos, com muita confiança e com muita clareza. O legado é esse, ele deixou uma semente em cada um de nós, em cada uma das pessoas que tiveram a oportunidade de participar desses fóruns, participar desses eventos. A partir dos fóruns, ele começou a desenvolver a REIS que é a Rede Empresarial de Inclusão Social, e aí ele convidou um grupo de empresas. Eu fiz parte do grupo diretor desde o primeiro grupo. O legado foi a REIS, foi essa vontade de transformar o mundo que ele deixou, ele multiplicou na verdade esse interesse, cada pessoa que conviveu com ele é como se ele tivesse deixado uma semente em cada um de nós.

Na REIS organizávamos muitos eventos, eventos presenciais na época e a lembrança que eu tenho é de que no final dos eventos nós tirávamos uma foto e o João sempre muito feliz, muito realizado em cada evento, é como se tivesse uma missão cumprida, sabe? Era notória a alegria que ele ficava, o jeito, ele conversava com a gente depois dos eventos e era aquela alegria. Conseguimos! Mais um! Mais uma etapa, mais uma vitória! O que eu guardo do João é essa força, essa vontade de melhorar o mundo, de melhorar as empresas e, uma coisa que eu citaria também como um legado e lembrança, é que ele falava de forma muito intensa e verdadeira. Ele falava que a gente deveria olhar não só as limitações, mas os alcances. Tudo que eu faço, eu levo em mente esse legado do João, sabe? Até porque eu sou uma pessoa com deficiência e ele me ajudou muito a mudar o meu olhar em relação à minhas limitações, não olhar só as limitações. Trago hoje uma lembrança e uma saudade muito grande dele.

Dinacleia Galdino

Mulher negra de cabelos pretos alisados. Ela está de óculos escuros. Usa um blazer cinza e lenço listrado. Ao seu lado está seu cão guia.

Eu conheci o João Ribas através do programa de empregabilidade da Serasa, onde eu fiquei três meses fazendo um curso, depois eu passei para processo seletivo dentro da própria Serasa e ele foi quem fez esse processo.

Eu vi o quanto as pessoas com deficiência foram ganhando força no mercado de trabalho através desse programa que ele fez. Ele foi o pioneiro. Muitas empresas copiaram esse método de contratação e isso acabou ganhando força dentro e fora da Serasa.

Minha melhor lembrança dele foi a inclusão em todos os cargos hierárquicos dentro da companhia, então sempre que nós tínhamos uma visita ele fazia questão de mostrar como era o programa que ele tinha desenvolvido, para que todos tivesse sua visibilidade e não ficasse só na parte imediata ali dos gestores. Ele levava para a alta liderança também

Ele realmente deixou um bom legado e eu me senti muito representada ao ver uma pessoa com deficiência ocupando o cargo de alta liderança como um executivo. Isso é raro da gente encontrar, então se tornou referência mesmo.

Pedro Zogbi

Homem branco, de cabelos curtos e castanhos. Ele usa óculos de grau de armação azul. Veste terno preto com uma camisa branca por baixo e uma gravata prata.

No finalzinho de 2011 eu trabalhava numa empresa que também trabalhava com o João Ribas, junto com a Serasa Experian, que era onde ele trabalhava. Eu fui conhecer o trabalho da Serasa e acabei tendo a grata surpresa  de conhecer o João e de conversar com ele bem no início, quando ele estava organizando tudo, quando ele estava vendo a questão da empregabilidade de uma outra maneira, de  uma maneira mais geral, olhando para o potencial da pessoa com deficiência. Por ele ser uma pessoa com deficiência também ele tinha essa noção, então passei um dia lá com ele. Ele me mostrou as palestras que ele fazia, ele me mostrou como ele acreditava na inclusão, ele me mostrou as mentorias que ele fazia para os alunos, então foi um dia bem proveitoso. Eu já havia assistido uma palestra dele antes e depois fui conhecê-lo pessoalmente.

Por ser uma pessoa com deficiência, ele entendia as dores e as potencialidades das pessoas com deficiência, então ele olhava para a inclusão de uma maneira muito específica. Ele olhava para o social, ele olhava para o potencial, então o grande legado dele foi ele entender que a inclusão não era algo isolado, pois ele passou isso. Quando criou a REIS, que é a Rede Empresarial de Inclusão Social, ele dizia o seguinte: que todas as empresas têm que assumir um pacto pela inclusão. Só aí ele já explicou a diferença, porque ele tinha esse objetivo da união e da transformação da inclusão, não como uma coisa isolada, não como o emprego de uma empresa aqui ou de uma empresa ali, é algo mais geral, e ele tinha isso no âmbito social.

Minha melhor lembrança dele, eu acho que é a forma como ele falava sobre o trabalho que ele estava implantando na Serasa. Ele tinha um orgulho muito grande do que ele estava fazendo, do recrutamento, da seleção, da forma como ele fazia a seleção dos candidatos, da forma como ele falava com as empresas, convencia as empresas. Porque o João Ribas teve um papel muito importante na interlocução com as empresas, então as empresas que chegavam até ele não sabiam o que fazer, e ele ia lá e desvendava o mistério para as empresas. A empresa em que eu trabalhava também estava no início da inclusão, então ele começou a nos ensinar como capacitar, como recrutar, como reter.

O João ele teve uma participação em relação à inclusão que vai além da presença dele aqui ou não. Ele deixou realmente um legado muito importante. Hoje a gente está comemorando esse legado, a REIS é um legado que ele deixou. A gente olha para a REIS e vê o traço do João, o desenho que ele fez.

Dra. Izabel Maior

Mulher negra, de cabelos curtos castanhos e lisos. Ela usa óculos de grau. Veste uma blusa azul, blazer preto e um colar preto e branco.

João Ribas se preocupou muito com a empregabilidade das pessoas com deficiência. Ele foi talvez uma das pessoas mais ativas em fazer a aproximação das empresas para que as empresas percebessem o potencial das pessoas com deficiência. Ele se preocupou em mostrar que a acessibilidade era de fato algo importante para que as pessoas galgassem cargos e chegassem a cargos de gerência, de direção. Como ele próprio chegou, ele trabalhou em uma grande empresa, a Serasa Experian, que se foi o último cargo que o João ocupou, e lá ele montou, junto com outras empresas, uma rede empresarial para que várias empresas pudessem mostrar como elas estavam resolvendo essas questões que era dúvida: se uma pessoa era capaz de aprender, se uma pessoa era capaz de trabalhar e o João Ribas procurou exatamente responder a essas perguntas. Como as empresas poderiam entender como uma pessoa com deficiência, no mundo capitalista de uma empresa, ela é um valor agregado, um valor humano? Ela não está ali para trazer prejuízo ou simplesmente para fazer figuração no quadro de empregados de uma empresa, e sim para trazer uma criatividade diferente, uma percepção diferente de ver o mundo e trazer a diversidade e, portanto, valores maiores, valores humanos, valores que eu diria até mesmo de produtividade. O João tinha um contato muito grande com as pessoas da Organização Internacional do Trabalho, tanto no Brasil como no exterior, e com isso ele sempre trazia com antecedência quais eram as novas propostas da OIT. Isso impulsionava a visão do empresariado para que nós pudéssemos melhorar essa noção e acabar com o capacitismo no mercado de trabalho. João foi um dos pioneiros do movimento das pessoas com deficiência.

Tenho lembranças divertidas, lembranças de encontros… no início, quando ninguém sabia o que ia acontecer, e ele mostrando uma preocupação, uma erudição muito grande. Uma preocupação em conhecer tudo. Sempre me atendeu no período em que eu estava em Brasília. Estava conosco nos seminários, nas preparações dos planos das políticas públicas, trazendo ideias novas e sendo essa ponte extremamente importante entre as pessoas com deficiência e as empresas, valorizando a capacitação das áreas de Recursos Humanos das empresas para que as pessoas de RH, que naquela época, eu diria a maioria das pessoas não estudaram com pessoas com deficiência, então a pessoa com deficiência era um grande desconhecido, o João Ribas furava tudo isso. Ele era uma pessoa com sequela mielomeningocele, e ele usava cadeira de rodas, sempre elegante com seu suspensório. Era o jeito dele, sempre formal, ele conseguia furar tudo isso e mostrar o valor de uma pessoa com deficiência para o empresariado.