Por Fátima El Kadri
26 de setembro é o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Auditiva. Neste dia, em 1857, era inaugurada a primeira escola para surdos no país: o Instituto Nacional de “Surdos Mudos” do Rio de Janeiro, criado pelo professor francês Ernest Huet, também deficiente auditivo. Ao criar o Instituto, Ernest Huet deu uma de suas maiores e definitivas contribuições para a inclusão das pessoas surdas no Brasil: o ensino da língua de sinais, que possibilita a comunicação e interação entre pessoas surdas e ouvintes.
Lembramos que, atualmente, “surdo mudo” é uma expressão considerada inadequada e ofensiva. Mas nos meados dos anos 1800, quando o instituto foi criado, as pessoas surdas ainda eram chamadas de “surdo mudo” ou ainda, “mudinhos”. Há algumas décadas o conceito de “surdo mudo” foi abolido, em reconhecimento ao fato de que as pessoas surdas não são mudas, elas têm sua oralidade preservada e, desde estimuladas, podem se expressar verbalmente também.
Por que essa data é importante? A resposta é que, somente no Brasil, há mais de 10 milhões de pessoas totalmente surdas ou com perda significativa de audição, o que compromete sua capacidade de comunicação e desenvolvimento intelectual e social.
Em um mundo que está longe de ser totalmente acessível, as pessoas que não ouvem e que comunicam por Língua de Sinais, quando aprendem a LIBRAS, enfrentam dificuldades em todas as áreas da sua vida, desde o acesso aos direitos básicos, como educação, saúde e emprego, até a inacessibilidade de estabelecimentos comerciais, de lazer, bancos e serviços públicos.
Quem são e como estão as pessoas com deficiência auditiva no Brasil? Buscamos algumas informações sobre o tema e respondemos aqui neste texto. Confira!
Dados sobre a deficiência auditiva no Brasil
Em 2019, o Instituto Locomotiva elaborou um estudo sobre a população surda no Brasil, que trouxe uma série de informações relevantes sobre este público.
Segundo a pesquisa, ao todo, 10,7 milhões de pessoas têm alguma deficiência auditiva, sendo: 2,3 milhões com deficiência severa. A maioria é do sexo masculino: 54% de homens e 46% de mulheres.
A pesquisa também revelou que a deficiência auditiva é mais comum na faixa dos 60 anos (57%) e que 91% das pessoas adquire essa condição ao longo da vida, geralmente antes dos 50 anos.
Entre os que apresentam deficiência auditiva severa, 15% já nasceram surdos.
87% das pessoas que responderam a pesquisa declararam não usar aparelho auditivo, por ter um custo muito alto.
Perspectivas para o futuro das pessoas com deficiência auditiva
Essas informações são importantes para compreender o enorme desafio de inclusão de pessoas com deficiência auditiva não só no Brasil, mas no mundo. Com o já anunciado aumento da expectativa de vida no país, até o ano de 2050, seremos 98 milhões de pessoas com mais de 50 anos, o que vai aumentar, proporcionalmente, a população com deficiência auditiva.
A Organização Mundial da Saúde afirma que, atualmente, há 500 milhões de pessoas surdas em todo o mundo. Até 2050, esse número chegará a 1 bilhão.
Se atualmente já é urgente promover uma sociedade mais inclusiva para as pessoas que são impedidas de exercer seu potencial por falta de acessibilidade, a preocupação em oferecer melhores condições de vida e inclusão das pessoas surdas na sociedade deve ser redobrada considerando as perspectivas de futuro..
A pesquisa cita, ainda, as dificuldades reais que as pessoas com deficiência auditiva enfrentam no cotidiano. Poucos têm acesso à educação, já que o investimento em tecnologias assistivas nas escolas ainda é muito pequeno e, com isso, apenas 7% conseguiram concluir o ensino superior e 32% não possui nem o ensino fundamental completo.
E como as oportunidades de estudar ainda são escassas, torna-se muito mais difícil realizar a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho mesmo pela lei de cotas. Porém, o estudo informa que 43% estão empregadas no setor privado e 37% trabalham por conta própria.
Nesse sentido, é muito importante lutar por políticas mais efetivas do governo para colocar recursos de acessibilidade tecnológica e instrutores de Libras em todas as escolas do país, assim como nas empresas, hospitais, cinemas, bancos, teatros etc. Esse é o caminho, previsto pela Lei Brasileira de Inclusão, para que as pessoas com deficiência auditiva finalmente possam quebrar o ciclo histórico de exclusão, ocupando todos os espaços da sociedade e sendo, finalmente, ouvidas.